Indígenas buscam o empreendedorismo para fortalecer seus povos
Para celebrar o Dia Internacional dos Povos Indígenas, em 9 de agosto, a ASN traz histórias de ações empreendedoras de jovens lideranças indígenas
Agência Sebrae – Proteção aos povos originários através do artesanato ancestral e da tecnologia utilizada para defender o território. Essas são características marcantes e que agregam valor ao trabalho de dois empreendedores do Norte do país, cujas histórias são apresentadas pela Agência Sebrae de Notícias na celebração do Dia Internacional dos Povos Indígenas, em 9 de agosto.
Siriani Txana é uma jovem liderança do povo Huni Kuin, que habita a fronteira brasileira com o Peru, na Amazônia Ocidental, e constitui a maior população indígena do Acre. Aos 22 anos, ela lidera o projeto Aîbaibu Kaiaway, ou Mulheres que curam (em português), que leva a mensagem de proteção por meio de grafismos que estampam joias originárias produzidas por mulheres da Aldeia do Segredo do Artesão.
Atualmente, 20 mulheres indígenas estão envolvidas na criação das peças que, como ela ressalta, devem ser “usadas com propósito”, porque são grafismos sagrados. Com isso, ela quer dizer que os elementos gráficos de cada peça têm um sentido diferente, como cura ou proteção. “Não é só para ficar bonito. Tem um significado”, afirma.
O artesanato faz parte da cultura dos Huni Kuin e Siriani aprendeu o ofício desde cedo, por volta dos seis anos de idade, com a avó, mãe e tia, suas “três mestras”, como ela mesma define. No entanto, a jovem indígena conta que não é tão simples assim conseguir as matérias primas necessárias para a produção das peças.
A aldeia Segredo do Artesão está, em viagem a barco, numa distância de 8 horas de Tarauacá, a cidade mais próxima do território indígena, mas essa realidade mudou após o projeto ser contemplado pelo Fundo Indígena da Amazônia Brasileira – Podáali.
Nikita Llerena, cofundadora do Instituto Iris Pro Bem Viver, que apoia a iniciativa e contribuiu no processo de acesso ao Fundo, contextualiza que os Huni Kuin eram um povo muito fechado e que viram no empreendedorismo uma alternativa para a escassez de alimentos, com ofertas cada vez menores de caça, peixe etc. Ela diz que começaram a sair da floresta com mais intensidade nos últimos cinco e estão cada vez mais dependentes da cidade e precisando de renda.
“Ao mesmo tempo, eu sinto que as mulheres têm uma clareza muito grande também daquilo que elas podem entregar”, afirma. Segundo Nikita, as indígenas fazem o artesanato de forma conjunta e conseguem explicitar seus limites de produção. “A gente está em um momento de entender esse esforço de trabalho baseado no que elas disserem que é saudável para elas”, explica.
Com recursos utilizados majoritariamente para fazer com que missangas de vidro cheguem com recorrência às artesãs, a marca Aîbaibu Kaiaway já tem rompido fronteiras. E, conforme Siriani, é a primeira fase de um projeto maior, a construção de um Centro de Cura na terra indígena, com as “medicinas da floresta”, cerimonias e até um museu e um cinema com o objetivo de fortalecer a cultura do povo Huni Kuin.
Para isso, a iniciativa tem também o apoio da aceleradora HuNIm, um hub para negócios de impacto na Amazônia, que visa dar protagonismo aos povos da floresta na construção de um modelo econômico regenerativo. Na avaliação de seu fundador, Alexandre Mori, trabalhar com projetos como esse “é uma oportunidade de contribuir dentro desse viés da bioeconomia florestal e ajudar justamente esses negócios que acabam mantendo a floresta em pé”.
Para ele, o que vale é “fazer com que esses pequenos negócios possam ter mais chances de sobreviver, que eles possam ser mais competitivos e, principalmente, gerar renda e desenvolver a região”. A HuNIm é um case de sucesso do Sebrae Startups e foi uma das iniciativas que integrou a 1ª edição do programa de aceleração Inova Amazônia.
Outra jovem liderança é Bitaté Juma, do povo Uru-Eu-Wau-Wau, que passou a monitorar e proteger o seu território, localizado no Norte de Rondônia, a partir do conhecimento em tecnologias relacionadas ao audiovisual. “Para nós indígenas, a fotografia é uma arma para denunciar e registrar os saberes ancestrais”, diz.
O jovem indígena, hoje com 24 anos, aprendeu a usar tecnologias como drones e GPS para monitorar e proteger o território dos Uru-Eu-Wau-Wau contra invasores. O trabalho de Bitaté, em colaboração com ativistas e organizações para defender os direitos indígenas e a preservação da floresta amazônica, ficou conhecido com o documentário premiado “O Território”, do qual ele participou também na construção do roteiro e gravação de imagens.
“Isso trouxe visibilidade para dentro do território, mostrar meu povo, minha realidade. A fotografia faz essa conexão, de você poder levar sua cultura para outros lugares”, comenta. Atualmente, o indígena vive em Porto Velho e trabalha no governo do estado. Paralelamente a isso, ele segue com a fotografia, cobrindo eventos, como microempreendedor individual (MEI).
Fonte: www.brasil247.com